domingo, 4 de abril de 2010

SEGUNDO O MÉDIUM RAUL TEIXEIRA CHICO INSPIROU PESSOAS E OBRAS SOCIAIS

O niteroiense Raul Teixeira, de 60 anos, é um dos fundadores da Sociedade Espírita Fraternidade (SEF), em São Domingos, Niterói. A instituição mantém uma obra social, o Remanso Fraterno, voltada para famílias de baixa renda.
Em entrevista concedida por e-mail dos Estados Unidos, onde faz palestras para divulgar a doutrina espírita, o renomado orador e médium falou sobre Chico Xavier e o momento atual do espiritismo.
1) Quando o senhor descobriu sua mediunidade? Na época, tinha que idade?
Desde muito criança, dei-me conta de que fazia registro de pessoas ao meu redor que muitos não enxergavam. As minhas recordações permitem que os familiares assinalem um período dos meus 2 anos e meio aos 4 anos, quando minha mãe desencarnou.
2) Já havia espíritas na família? Foi um processo complicado? Embora minha mãe fosse médium vidente, audiente e de efeitos físicos, assim como minhas duas irmãs fossem igualmente médiuns, não se conhecia em minha família o espiritismo. Desse modo, conheciam-se os fenômenos mas não a teoria da doutrina espírita. Dessa maneira somente minha mãe via o que eu estava registrando em minha infância, com relação ao mundo dos espíritos. O processo da eclosão de minha faculdade paranormal não foi algo complicado; complicado foi o entorno, ou seja, a religião para a qual fui encaminhado pela família, uma vez que o sacerdote que me orientava, por sinal, um grande amigo, por não crer em espíritos, teimava em afirmar-me que eram insinuações demoníacas. Imagine-se isso na mente de uma criança e depois de um adolescente que se via impotente para afugentar os tais demônios de sua mente ou de sua vida. O maior complicador foi esse. Logo que fui convidado por um amigo de infância a conhecer o pensamento espírita. Ao entender o que se passava de fato comigo, tudo, então, se modificou porque aprendi a exercer controle sobre minha mente por saber que tudo se tratava de uma faculdade paranormal, inerente a toda e qualquer criatura humana.
3) Quantos livros psicografados o senhor tem? Até o momento, são 32 livros.
4) Como vê o momento atual da doutrina espírita, oito anos após o desencarne de Chico Xavier? Identifico um movimento espírita crescente, dinâmico, tanto no Brasil quanto fora, onde têm sido apresentados seus fundamentos. Naturalmente, um movimento calcado em ideias, em filosofia, na medida em que vai se tornando massivo, passa receber afluentes opiniáticos que tentam se impôr, influenciar, modificar, como ocorreu com todas as doutrinas existentes no mundo. Passados oito anos da desencarnação de Chico Xavier, podemos ver com muita clareza a influência benéfica do seu prodigioso trabalho psicográfico, sem dúvida, mas, fundamentalmente, a força do homem amoroso que soube ser e do seu poder inspirador, uma vez que incontáveis criaturas transformaram suas vidas para melhor, em razão da inspiração em Chico. Múltiplas obras sociais de benemerência, de auxílio e de socorro aos necessitados de vários matizes surgiram sob essa mesma inspiração.
5) O senhor tinha muito contato com Chico? Lembra-se de alguma passagem marcante vivida com ele? Mantive muitos contatos com Chico, posto que passei a visitar a cidade de Uberaba desde 1969, duas vezes ao ano, valendo-me dos períodos de minhas férias escolares. Tanto ia proferir palestras na cidade quanto visitar o generoso benfeitor, que se me tornou muito querido amigo, tendo-me convidado para participar de algumas reuniões e atividades mais privativas que realizou em sua casa, como quem desejasse incentivar para o exigente trabalho do bem um jovem iniciante nos passos da doutrina espírita. Numa dessas estadas em sua casa, quando ele e alguns amigos realizavam um momento de estudos espíritas e de psicografias, pude vê-lo atender a uma família que lhe chegara à casa em franco desespero. Um pai levando preso nos braços um menino, que aparentava estar nos seus 7 ou 8 anos de idade, que o chutava, mordia e grunhia. Um jovem senhora, em pranto, e uma senhora idosa que soubemos ser a avó materna do menino. Alguns confrades cederam lugares para a pequena caravana de sofredores. Um silêncio pairou na sala, entrecortado pelos sons de soluços e grunhidos da criança em comovedor estado obsessivo. Chico ergueu-se de onde estava sentado, e dirigiu-se ao pequeno grupo. Em rápidas e doridas palavras, a mãe do pequeno descreveu seu calvário de meses de desgastes, de incontáveis noites insones, dos inúmeros consultórios médicos visitados na procura de solução para o caso do filho querido, sem qualquer êxito. Revezavam-se os três adultos, em casa, para tomar conta do menino que intentava sempre uma forma de ferir-se gravemente, destruir a vida, caso ficasse sem vigilância permanente. Depois de ouvir o breve relato, Chico Xavier solicitou a uma das convidadas para proferir uma oração, e pela primeira vez vi-o erguer as mãos sobre a dupla pai e filho, no trabalho dos passes, da fluidoterapia.De inopino, a sala foi invadida por um intenso perfume de rosas, mas eram rosas vivas, que chegavam a nos arder os olhos. Tudo ficou impregnado daquele perfume. o menino foi se acomodando nos braços do genitor, o homem chorava agora de emoção, assim como as duas mulheres que o acompanhavam. Chico ainda aplicou passes nas duas senhoras e, ao concluir, o ambiente estava em completo silêncio, como um campo de paz. O grupo familiar, que chegara de uma cidade interiorana do estado de Goiás, levantou-se agradecido e em lágrimas, enquanto o menino dormia sereno. No momento em que o pai agradecia a intervenção espiritual de Chico, este recomendou-lhe que conduzisse o filho ao centro espírita existente em sua proximidade, em Goiás, a fim de dar continuidade ao tratamento fluidoterápico da criança, garantindo que, se o fizessem, o menino se recuperaria do difícil processo perturbador. Para mim, em particular, foi uma noite memorável, de profundos aprendizados, tendo em vista a simplicidade com que Chico Xavier atendeu aquelas pessoas. Não fez estardalhaço, não bufou nem fungou, não ficou com a respiração ofegante, não demonstrou nenhuma estranheza diante do caso. Em nenhum momento assustou a família ou fez prognóstico catastrófico, mesmo sabendo da gravidade do caso. Agiu como um facultativo experiente à frente de um diagnóstico conhecido, consciente do que podia fazer para minorar o drama, indicando, após, a continuidade do tratamento. Esse foi o Chico Xavier que conheci e que me cativou, desde os distanciados dias da minha juventude.
6) Muitos o consideram sucessor do Chico, ao lado de Divaldo. O senhor concorda com essa ideia de "sucessão"? Por quê? O movimento espírita corresponde ao labor que desenvolvemos em torno da doutrina espírita. Todo e qualquer esforço ou realização no sentido de ensinar e divulgar o espiritismo passa a compor essa dinâmica que denominamos movimento espírita. A doutrina espírita por si mesma não tem qualquer hierarquia, não evoca qualquer direito canônico para o enquadramento dos seus pares. Os compromissos dos espíritas para com a doutrina estão calcados nas leis que regulam a nossa consciência. Os fundamentos espíritas, tais como a existência de Deus, a existência e imortalidade da alma, a pluralidade das existências, a pluralidade dos mundos habitados e a comunicabilidade dos espíritos, impulsionam-nos e facilitam-nos o melhor entendimento do mundo e das suas relações sociais, levam-nos a compreender mais e melhor as provas e as expiações encontradas na terra e nos facultam a vivência do amor ao próximo sob o nome de fraternidade. Na doutrina espírita não existe uma ordenação sacerdotal de qualquer espécie; ninguém sucede a ninguém, hierarquicamente, uma vez que cada criatura chega ao mundo com seu canhenho de compromissos, de responsabilidades, o que levou Jesus Cristo a afirmar que "a cada um será concedido conforme as suas obras". Assim, procuro compreender a generosidade de muitos companheiros que conseguem ver em mim qualquer possibilidade de substituir fulano ou beltrano, mas sou obrigado a admitir que avaliam indevidamente e têm muito pouca reflexão espírita. O nosso trabalho deve ser realizado pelo compromisso que toda criatura humana deve ter com o bem, pois as leis de Deus nos recomendam a sua prática. Em nenhum momento, porém, procuraremos fazer isso ou aquilo para suceder a quem quer que seja, salvo nos casos de falta de senso crítico ou de lamentável presunção vaidosa.
Fonte:Extra on line

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